O jornal francês Le Monde que
chegou às bancas na tarde desta terça-feira (9) traz uma crônica o carnaval
desse ano no Brasil, assinada pela correspondente do vespertino em São Paulo. A
jornalista explica que, apesar da crise e da epidemia de zika, que quase
estragaram a festa, o folião brasileiro não abre mão do bom humor, como mostra
o sucesso do “Japonês da Federal”, que virou personagem dos blocos de rua.
Com o título “O carnaval das ilusões
perdidas”, a correspondente Claire Gatinois conta aos franceses como, em poucos
meses, Newton Ishii deixou de ser um simples policial e se tornou “uma estrela
no Brasil”. A jornalista conta que desde que ele foi visto nos telejornais
acompanhando os suspeitos de envolvimento no escândalo de corrupção na
Petrobras, as pessoas “querem fazer selfies com Ishii, que virou um ídolo nas
redes sociais”. A tal ponto que o “mascote da justiça”, como diz o vespertino,
se tornou tema de máscaras de Carnaval.
O sucesso do “Japonês da Federal”
é usado pela jornalista para falar das particularidades dos festejos de momo
este ano no Brasil, descrito como “o carnaval da recessão” pelo jornal espanhol
El País, ou “a festa à beira do precipício”, pelo semanário britânico The
Economist, citados nas páginas do Le Monde.
“O gigante da América Latina não está em clima
de celebração. Desde o início de 2015, mais de 1,5 milhão de pessoas perderam
seus empregos, o real despenca, a inflação derrapa, a operação Lava Jato enoja
os cidadãos e a presidente Dilma Rousseff é ameaçada de destituição”, resume o
vespertino francês. Além disso, continua a jornal, a epidemia do vírus zika
terminou de colocar o Brasil em “uma ladeira escorregadia que parece ter
começado, simbolicamente, quando a derrota humilhante contra os alemães na Copa
do Mundo de 2014”.
Nesse contexto, o carnaval
brasileiro, que com o passar dos anos se tornou cada vez mais dependente do
dinheiro público e dos patrocinadores foi afetado e várias cidades, “por
decência ou obrigação” decidiram anular os festejos para fazer economias. “Como
criticar um prefeito que preferiu investir em uma ambulância do que em um carro
alegórico?”, questiona Le Monde.
No entanto, esse clima de crise
não impede os brasileiros de celebrar e até ironizar, principalmente nos blocos
de rua, os problemas enfrentados pelo país, comenta o jornal. O texto lembra
que as máscaras de carnaval representando os rostos de Dilma, Lula ou Eduardo
Cunha nunca fizeram tanto sucesso. Mas eles perdem, de longe, para a fantasia
do “samurai”, a “coqueluche” do carnaval 2016 no Brasil, ironiza a
correspondente.
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