Após derrota nas eleições, Suplicy sofre pressão da família para se desligar do PT | Rio das Ostras Jornal

Após derrota nas eleições, Suplicy sofre pressão da família para se desligar do PT

Para agradar à namorada, ele pensa em mudar para o Rio e tentar ser vereador na cidade

 “Tio Eduardo, você tem meu carinho e admiração de forma enorme, é uma pessoa extremamente especial e que respeito muito por todos os valores e tudo o que acredita, mas acho importante deixar claro o que vejo por aí e também o meu pensamento. De cada dez pessoas que eu conheço, posso dizer que 9,8 delas eram suas eleitoras sempre, mas hoje a grande maioria deixou de ser. Porém, absolutamente nenhum foi porque deixou de lhe admirar ou qualquer coisa parecida, mas pela decepção do senhor dar força ao PT e ainda estar no partido”.

É essa a avaliação que a família do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) faz da derrota dele nas eleições em São Paulo. A crítica faz parte de um e-mail que uma sobrinha de Suplicy enviou a ele na última terça-feira (14), lamentando o resultado das urnas e tentando explicar por que, mesmo sendo admirado pela maioria dos eleitores, o político não conseguiu votos suficientes para se reeleger senador. O texto foi mostrado à reportagem do R7 por Suplicy como um lamento do parlamentar, que em fevereiro, início da nova legislatura, passará sua vaga ao tucano José Serra. 

A sobrinha pede que Suplicy saia do PT para preservar sua imagem íntegra e acredita que a defesa que ele faz do partido é o que o fez perder votos. Em outro trecho do e-mail, ela indica também que esse é o entendimento da maioria dos parentes e amigos do senador.

— Não deixe sua integridade ser abalada pelos outros, sua força gigante apenas foi usada no lugar errado. O problema é o senhor defender quem não merece sua defesa. Sei que deve escutar isso sempre, mas não custa ser mais uma para incentivar a sua reflexão.

E, aos 73 anos, Suplicy reflete. “Todos os dias”, diz ele. Mas, não considera a possibilidade de deixar o PT. Como sempre defendeu a fidelidade partidária, ele acredita que seria incoerente de sua parte sair do partido depois de participar da fundação da agremiação, em 1980.

— Se a gente está em uma grande família e alguém comete um erro a sua atitude não é de sair da família. Se em uma organização, ainda mais tão grande quanto o PT, alguém comete um erro, minha atitude não é de querer sair. É de procurar prevenir, corrigir os erros e contribuir para que não se repitam.

Sem dinheiro do PT

Suplicy admite que há rejeição ao PT em São Paulo e que o partido precisa “realizar um grande esforço de reflexão” sobre isso. Nas eleições, o candidato petista ao governo do Estado, Alexandre Padilha, ficou em terceiro lugar e a presidente Dilma Rousseff perdeu para Aécio Neves (PSDB), no primeiro turno, com uma diferença de mais de 4 milhões de votos.

Mesmo assim, ele não acredita que esse tenha sido o principal motivo de sua derrota. Suplicy avalia que foi prejudicado pela falta de recursos para a campanha e pela ausência de debate de propostas.

O PT não repassou nenhuma verba para a campanha de Eduardo Suplicy ao Senado. De acordo com o senador, a direção do partido avisou desde o início que ele deveria se autofinanciar.

 — A mim foi feita a instrução de que eu teria de fazer o máximo para arrecadar os recursos. O PT considerou que eu teria mais facilidade para levantar o dinheiro que o próprio partido. Eu procurei fazer a minha parte. Tive que enfrentar isso da melhor maneira que eu pude.

O PT estimou um gasto de R$ 15 milhões para a campanha de Suplicy. Mas ele gastou R$ 3 milhões. Até agora, levantou R$ 2,5 milhões em doações — falta pagar R$ 500 mil da dívida.

O dinheiro, segundo Suplicy, foi usado basicamente para a produção de material de televisão e de rádio. Sobrou pouca verba para viajar pelo Estado.

— Isso limitou a minha possibilidade de viajar mais pelas cidades do interior, e os meus adversários principais tiveram muito maior volume de recursos. Tive recursos modestos e eu gostaria muito de ter realizado debates com meus adversários, mas eles preferiram não participar dos embates pelos meios de comunicação.

Para o cientista político da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Ricardo Ismael, Suplicy sempre teve uma atuação independente no Senado e não se obrigava a seguir as orientações do partido. Na avaliação do especialista, o senador construiu sua história sem interferência do PT, e isso o prejudica dentro da agremiação.

— Ele é um espécie de senador com luz própria, não tem esse prestígio todo no PT. Ele não faz parte do grupo de senadores que são mais próximos da Dilma e do Lula. Tem uma atuação mais independente e paga um preço por isso. Ele coloca a opinião dele e não está muito preocupado com a repercussão.

Futuro

Depois de 24 anos de mandato no Senado, o gabinete do senador Suplicy é praticamente uma extensão da casa dele. Na mesa, fotos dos três filhos e da namorada, a jornalista Mônica Dallari. Na estante, vários porta-retratos com fotografias dos netos. Mas, no dia 31 de janeiro de 2015, quando acaba o mandato, a sala vai precisar ser esvaziada.

No entanto, o senador não pensa nisso ainda. Segundo ele, vai trabalhar até o último dia para votar o novo marco legal para as sociedades corporativas. O projeto de lei tramita no Congresso desde 2007 e Suplicy confessa que gostaria de votar o texto antes de deixar o Senado.

Sobre um próximo mandato, ele diz que “tudo está em aberto” e que é muito cedo para tomar qualquer decisão. Mas o senador lembrou que quando perdeu as eleições para governador de São Paulo em 1986, concorreu a uma vaga de vereador dois anos depois.

Desta vez, Suplicy considera até trocar de colégio eleitoral. Em meio a risadas, o senador explica que pensa em mudar para o Rio de Janeiro a pedido de Mônica.

— Eu tenho uma namorada e gosto muito dela. Ela falou que se eu for candidato a vereador no Rio de Janeiro, ela casa comigo. Quando eu vou lá, as pessoas são muito simpáticas comigo, me cumprimentam na rua. É uma boa proposta.

Enquanto não decide o futuro político, Suplicy vai voltar a lecionar. O senador aceitou o convite para ministrar uma aula no curso de gestão de políticas públicas no campus da USP (Universidade de São Paulo) na zona leste de São Paulo.  Ele começa a dar aulas no primeiro semestre de 2015 e está entusiasmado com a oportunidade.

— Poderei estudar bastante e aprender com pessoas que têm muito a me oferecer. A vida continua e diariamente temos a chance de nos reinventar.

Renda Básica da Cidadania

A implementação da lei da RBC (Renda Básica de Cidadania) é o que motiva o senador Suplicy a continuar a trajetória política. O projeto apresentado por ele prevê que todo brasileiro, e estrangeiro que viver no País há pelo menos cinco anos, deve receber do governo uma renda mínima para sobreviver.

O texto foi aprovado pelo Congresso e sancionado em 2004. Mas até agora não saiu do papel. A proposta de Suplicy é criar um grupo de trabalho para estudar como será a transição do programa Bolsa Família para o Renda Básica.

Em janeiro, ele apresentou para a presidente Dilma Rousseff 70 nomes de especialistas que poderiam integrar esse grupo e estudar a viabilidade da RBC. Mas lamenta não ter recebido ainda uma resposta e aguarda uma definição antes de pensar sobre os próximos passos de sua carreira política.

— Eu sei que não é para o ano que vem. É para constituir um grupo para saber como será financiado, um dia, a Renda Básica de Cidadania. O que eu mais queria ver é que ela [Dilma Rousseff] levasse a sério, eu nem preciso fazer parte do grupo, mas estou à disposição para ajudar como for necessário.

Dever cumprido

Mesmo sabendo que pelo menos nos próximos oito anos estará fora do grupo de legisladores no Congresso, Suplicy avisa que não vai abrir mão de lutar pela RBC e diz que sai satisfeito.

— Tenho a consciência de ter cumprido meu dever no Senado.

Figura querida entre os colegas, ele está sempre presente na lista dos cinco melhores senadores no prêmio Congresso em Foco – que realiza votação na internet entre os nomes escolhidos por jornalistas que trabalham na cobertura política.

Na pesquisa do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), ele aparece entre os senadores mais influentes e foi apontado como o melhor senador no Atlas Político divulgado neste ano.

Nas redes sociais, ele se orgulha em ver como os fãs da página no Facebook cresceram — passaram de 5.000 em fevereiro para quase 270 mil em outubro — e lê todos os comentários. Fica feliz com o carinho que recebe.


— Eu sou muito respeitado dentro e para além do partido, disso eu sei.
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